quinta-feira, 19 de agosto de 2010

i'm in love with my feelings

Dezenove anos e nada. Aos dez costumava pensar que quando beirasse os vinte eu já estaria completamente resolvida na vida, com objetivos bem traçados, sonhos em andamento e metas já cumpridas. Era fácil imaginar: "Por que são assim que as coisas funcionam. Agora eu brinco, amanhã eu estudo, depois de amanhã eu trabalho. Cada coisa no seu tempo. Tudo vai se ajeitar." E brincava. Brincava como se o dia seguinte fosse onírico. Nunca cheguei realmente a me preocupar com o fato de que um dia eu teria que colocar a boneca de lado. Naquela época eu vivia à maneira carpe diem sem nem mesmo saber que raios era isso.

Sempre que meus olhos pousavam sobre meu irmão mais velho estudando feito louco pra alguma prova, por exemplo, nunca me ocorreu que um dia eu estaria em seu lugar. Tudo o que eu sentia era pena por ele não poder estar brincando de bola comigo. Tempos depois, ao ver alguém sofrendo por amor, eu assimilava esse sofrimento como pura falta do que fazer. Ah, quanta estupidez! Que imensa ingenuidade a minha achar que trataria com desprezo as paixões da vida e sairia impune delas.

Bom, a questão é que eu não tenho mais dez anos e as coisas não se resolveram como o planejado. Nada se acertou. As dúvidas aumentavam a cada dia, o stress me comprimia a cada prova, os amores me destroçavam a cada beijo e o carpe diem me abandonava a cada aula. Da mesma maneira me ficou claro que os adultos não são heróis e que eu estou por conta própria. Não entrei na melhor universidade do país e nem encontrei o amor da minha vida porque esse era o meu destino, mas sim porque depois de muito apanhar, arranquei as rédeas da minha vida das mãos alheias e passei a conduzir meu próprio caminho, ainda que com sangue escorrendo por entre os dedos. Ninguém nunca me recomendou a faculdade de letras, tampouco me disseram que eu seria feliz ao lado do meu namorado. Pelo contrário. Para todos que avisei da minha escolha quanto à faculdade me disseram que eu nunca alcançaria o sucesso. E quanto ao meu namoro, ninguém levou a sério. "Daqui dua semanas, acaba", deviam pensar.

A verdade, entretanto, é que eu nunca fui tão feliz em todos esses dezenove anos. Nunca, concessões e ponderabilidades me fizeram tão bem. Ao mesmo tempo, viver por impulso e seguir o fluxo das coisas me parecia tão adequado quanto todas essas precauções. Acabei por fazer os dois. Encontrei meu ponto de equilibrio e nunca mais passei uma única noite em branco. Trouxe os sonhos de volta ao meu dia-a-dia. Hoje, sequer consigo me lembrar das minha dores de amor ou das derrotas da vida. Mas tenho minhas cicatrizes, e delas, dos meus erros, me fortaleço. E mais uma vez citando uma das pessoas mais célebres que já conheci, termino tudo o que poderia dizer: "Nossos erros são as únicas coisas verdadeiramente originais que fazemos." Então eu erro, e a partir das cicatrizes oriundas desses erros, eu me torno, a cada dia, a pessoa mais feliz que poderia ser.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

headaches

"Como a natureza expressa o perigo? Beleza. Na natureza, tudo o que é fatal tem cores brilhantes e lindas, desde a Coral até as plantas carnívoras e os tigres. A mensagem é: o que é belo, mata. Mas o que significa a beleza? Desejo. Chamamos belo aquilo que nos atrai. Eis o truque. Aquilo que nos atrai, atrai por proveito próprio. O que nos convida, não nos convida por suas intenções, por isso precisa de uma fachada atrativa. O que é bom, engorda. O sol que aquece, enruga... Percebe a razão? O efeito do bem é o mal. Assim como o mal pede o bem. A natureza escreve assim."


(Jean M. explicando minhas dores de cabeça. É. Pois é...)

a poesia de quem não quer ser poeta

Pouco falo aqui sobre minha vida cotidiana. Pouco falo, aliás, sobre tudo. Me parece que depois de entrar para a faculdade de Letras a minha capacidade interpretativa aumentou exponencialmente ao mesmo tempo que o meu impulso criativo foi se escondendo por detrás do medo de nunca chegar a escrever algo realmente bom. Até que hoje, durante a aula de literatura comparada, meu professor disse algo que eu nunca havia antes escutado dentro daquela universidade: "Que tal se a gente, ao invés de só analisar, escrevessemos poesia?".

Silêncio total. Pois é, escrever poesia. Eu vejo poesia por todos os lados, todos os dias -e não me refiro aqui aos estudos do meu curso ou aos autores que leio com frequência, mas sim à poesia do dia-a-dia, pequenos traços de beleza, coisas simples... pra mim, isso é poesia - entretanto, nunca escrevi um único poema que seja. Nenhum. Sempre quando a idéia me surgia eu pensava: "Não levo jeito pra coisa, é melhor me contentar com minha vidinha prosaica..."

Hoje, mudei minha perspectiva ao olhar pra isso. Afinal, quem foi que disse o que eu não posso fazer? Nada que eu faça ou deixe de fazer tem a necessidade de se adequar ao que a sociedade chama de "bom" ou "ruim", tampouco devo eu me preocupar com isso. Tudo o que quero realizar é que deve tomar a dianteira nos meus caminhos cheios de retornos e encruzilhadas. E o que eu quero é bem simples: ter a escrita de volta como minha terapia diária. assim como foi durante muito tempo antes de eu me bloquear por fatores acadêmicos. Eu quero que seja fácil, assim como é agora. Eu quero, como disse meu professor, "soltar a mão", porque "basta que você solte sua mão para que o primeiro e mais dificil passo seja dado". Eu dei meu primeiro passo. Mais uma vez.

É tão ridiculo pensar que abri mão daquilo que mais gosto de fazer simplesmente por medo de não agradar. Por deus, não agradar a quem? Ninguém nunca lê nada do que escrevo, essa nunca foi a minha intenção. Ah, sim... Medo de não agradar a mim mesma. Me martirizo um pouco por ter demorado tanto a descobrir isso. Contudo, agora que conheço pouco mais de mim e tenho a noção de que tudo o que quero é me sentir feliz comigo mesma e realizada quanto as minhas reflexões - sem pensamentos turvos ou sonhos mal desenrolados me atormentando - eu escrevo, escrevo agora da mesma forma que sai correndo da minha aula de literatura pra poder sentar na praça do relógio e extrair minha primeira poesia numa só respiração. Sem pensar. Tão fútil, tão juvenil, tão passional. Mas minha. É só isso que me importa. E que julguem... Meu eu racional entrou de férias, e não comprou passagem de volta.


Não é outono
Mas o vento arranca com brutalidade
As folhas das árvores que secaram
E o farfalhar dessa natureza morta,
Ainda que respire,
Traz lágrimas aos olhos na menina de madeixas negras
Que oscila sob a copa de uma árvore cinza

O vento força; mas não se esforça
Pra que leve embora dos pés da menina
Seus sonhos de cor violeta
Que com tanta sutileza
Havia cuidado e guardado e regado
Na semente da árvore que chora
A cada folha que se vai.



Afinal, qual o sentido da vida sem poesia, não? Nela cabem as grandes paixões. E isso sempre me interessou muito. Hoje faço parte da primeira geração modernista. E que assim seja pelo tempo que me for necessário...