terça-feira, 24 de julho de 2012

Segundos.

Encaro o relógio e conto 60 segundos. Depois mais 60. E mais 60. Permaneço assim até esquecer quantas vezes contei 60 segundos. E não me pergunto o porquê de o estar fazendo. Simplesmente faço.


Os carros correm. O motorista do ônibus se irrita com a mulher que dirige o fiat uno e que parou o carro entre as duas faixas, sem deixar passagem. Alguém grita por ter sido quase atropelado. As pessoas andam, se atrasam pro trabalho, estudam, namoram, correm pro hospital. Tudo isso escuto acontecer lá embaixo, enquanto estou aqui, no décimo terceiro andar. Contando os segundos.


Olho pra pilha de livros amontoada do lado da minha cama: minhas pesquisa por fazer. Os sapatos jogados no chão. O cobertor caindo pra fora da cama. Roupas dobradas em cima do aparelho de DVD. Meu celular toca. Não levanto o braço, não desvio o olhar. Deixo tocar. Sinto o cheiro do shampoo que exala do meu cabelo molhado quando me movo na cama. Fecho o livro que tinha nas mãos.


Que roupa usar? Pra onde iria mesmo? Ah. Tenho que ir ao mercado. Certo. Na geladeira, só uma caixa de suco de uva. Penso antes de levantar.


Por onde tenho andado? Seria esse sentimento vazio, uma descoberta? Sozinha. Ninguém mais no apartamento. Sinto que minhas costas doem. Aperto a parte de cima do meu ombro esquerdo com minha mão direita. Quando foi que me tornei tão tensa...? E porquê?


Memórias me surgem, uma historia sem cronologia. Um caminho percorrido sem saber.


A vida. Era disso que eu tomava consciência. Da vida. Dos anos que passaram, das coisas que vivi. De tudo que aprendi sem perceber. Da ingenuidade, da felicidade que passou. Da consciência melancólica que ficou.


O tempo passa. O tempo todo. As pessoas ainda correm lá fora. Eu crio vincos no rosto dentro do quarto. As olheiras cresceram. Olho meu reflexo na televisão desligada. Há uma ruga de álcool na minha testa. Não a vi aparecer. Não percebi se aproximando. E agora é minha. Pra sempre minha. Me condenando, me recriminando, me julgando. Um marca com o poder de me desmascarar. De me deixar frágil. De revelar minhas fraquezas. 


Me dizem que sou perfeita. Mas sei que tenho problemas demais. Penso demais. Os problemas aumentam. Escondo-os do mundo. Esqueço deles por alguns minutos, contando segundos. Lembro que existo. Que preciso ir ao mercado. Que tenho um emprego. Aulas na faculdade. Um namorado que me faz pensar demais. E estou contando segundos. 


Perfeita. 
Felicidade.
Gostaria que alguém me ensinasse.

domingo, 4 de março de 2012

"To fall in love is just like falling asleep, You never know exactly when it happens..."


La Découverte

Harmonieusement,
Tout en marchant à côté de la rivière
Ce jour-là, nous nous rencontrons
Nous nous examinons les uns les autres
Nous nous sommes approchés…

Harmonieusement,
Sans avoir besoin d’explications
Nous nous contentons de regarder dans les yeux
Et pendant la nuit, nos parlons, nous rions, nous dansons...

Tous ces choses, harmonieusement...

Harmonieusement,
Nous nous sommes embrassés.
Harmonieusement,
Nous fermons nos doigts
Et tous les problèmes disparraissent.

A l’aube du jour nous disons “Au revoir”
Et la vie semble vraiment plus jolie…

Daniella Detoni Moraes (17/04/11)





Sinto tua falta, J.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Entendimento? Póstumo.


Fato que as pessoas possuem vazios. Ainda que não os percebam, eles estão por aí, incomodando. Mas um grande vazio não se preenche com um amontoado de outros vazios. Não importa a idade mental, o sexo, o nível econômico ou cultural. Se você aprecia Richard Wagner ou Lady Gaga, David Hume ou Paulo Coelho. Um dia, a ficha cai... A diferença está em como lidar com essa consciência. A esmagadora maioria não vai ter nem cinco minutos de seu precioso tempo pra pensar sobre ela. Já eu... Durante os últimos dois meses, alcancei o nada, a falta, o vazio, o buraco, o chão. Nunca antes eu havia sentido o chão com tamanho detalhamento. Nunca antes eu havia percebido o quão única e intransferível é a dor de um ser humano. Esta não é algo entendível. Não é algo que deva ser partilhado. É algo que deve ser digerido única e exclusivamente pelo coração de quem sofre. Fugir? Me esconder? Correr? Me distrair? Pode funcionar, sim. Mas com data de validade. Não importa por quanto tempo eu corra, em algum momento seria vencida pelo cansaço. Em algum momento retornaria para a minha dor. Ela é minha. Só eu posso conviver com ela. Os outros não a suportariam. Sou eu quem dela precisa retirar algo que me faça construir escadas para que me levante do chão. Eu. E ninguém mais. Me indago sobre a capacidade de sofrimento de algumas pessoas... Acho que, afinal, essas são as pessoas que mais se aproximam dos animais. Invejo-as. Vivem e sofrem sem a consciência da vida ou da dor. Agem como um rio que corre sem pensar, sem a menor percepção daquilo que está em volta, e o mais importante, sem serem capazes de parar. Essas pessoas possuem uma necessidade tão incontrolável de viver que se esquecem de todo o resto. Se esquecem que, talvez, as águas de seus rios estejam causando a queda da canoa de outra pessoa. Pessoa essa que fez de tudo para poder estar ali, partilhando um fragmento de sua vida com esse rio, por quem se apaixonou. A canoa faz-se, então, destroçada. E seus destroços, separados, significam  ainda mais do que a canoa completa. Representam uma humanidade incompreendida por uma força animal. Representam um coração extremamente machucado por alguém que nem ao menos possui consciência de tal feito... Será, então, cabível que a pobre canoa submeta-se à tamanho sofrimento? Um sofrimento sem sentido, sem amparo, sem entendimento? Absolutamente. É o sofrimento, a reflexão sobre ele e o tão esperado entendimento sobre sua origem pelo qual passará a canoinha que fará com que ela se reconstrua de um sentimento muito mais forte para encarar a próxima correnteza. Ela não mais se dará à um vazio, será seletiva em relação aos rios. Analisará seus trejeitos, suas nuances...  Talvez agora, mais endurecida, menos flexível...Mas totalmente pronta para aguentar um número muito maior de machucados sem sentir  a mesma dor que um dia lhe partiu ao meio, espalhando seus pequenos destroços ao longo do rio...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

diário de bordo

O que fazer quando os pensamentos não cabem na cabeça?

Minha vontade é de gritar. De exteriorizar. Assim eu conseguiria mostrar a todos que eu não sou nada daquilo que eles veem. Nada. É incrível como as pessoas criam máscaras todos os dias. Me surpreendo em reconhecer o quanto minto sobre mim mesma, sobre o que sou, só pra não me dar ao trabalho de ser questionada sobre minha ausência de padrões socialmente aceitos. Por isso finjo. E as máscaras se acumulam. A cada dia, uma diferente da anterior. Até que, sem perceber, me perdi em meio às máscaras... Não sei mais se sou de fato aquilo que está por baixo dos disfarces. Não sei, na verdade, se aquilo ainda existe em mim. Temo ter perdido essa essência em meio a tanto lixo. Antes, tão certa sobre tudo; hoje, tão incrivelmente perdida. Como? Como acabei deixando que tudo de real importância se esvaisse na podridão?

Eu não quero ser um rótulo. E isso basta para que eu não me torne um, não é?Nunca estive tão certa de algo antes e nunca me faltou tanta coragem pra fazer com que a verdade se torne explícita. Eu quero criar meu mundo, meus gostos, minhas paixões. Quero que sejam meus gostos e minhas paixões. Cansei de ser guiada por um mundo pré-existente. Não quero amar o que os outros amam, não quero gostar do que é mais aceitável. Eu quero viver, experimentar, me descobrir, me encantar, me apaixonar, me aventurar. Quero amar. Eu não cheguei até aqui pra passar os melhores anos da minha vida brincando de casinha.

E tudo isso surgiu em mim como em um colapso, como em um momento de clarividência nunca antes imaginado pelas minhas sinapses. Foi um baque. E foi lindo. A paz. A harmonia. A vontade de parar o tempo, de respirar tranquila, de relaxar os músculos tão enrigecidos por essa pressão que chega de todos os lados me ditando regras, me dizendo o que fazer e como agir. Não quero mais isso. Eu quero a minha paz. Eu quero essa intimidade comigo mesma. Quero a sinceridade que o mundo despreza.

Quero tanto...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

i'm in love with my feelings

Dezenove anos e nada. Aos dez costumava pensar que quando beirasse os vinte eu já estaria completamente resolvida na vida, com objetivos bem traçados, sonhos em andamento e metas já cumpridas. Era fácil imaginar: "Por que são assim que as coisas funcionam. Agora eu brinco, amanhã eu estudo, depois de amanhã eu trabalho. Cada coisa no seu tempo. Tudo vai se ajeitar." E brincava. Brincava como se o dia seguinte fosse onírico. Nunca cheguei realmente a me preocupar com o fato de que um dia eu teria que colocar a boneca de lado. Naquela época eu vivia à maneira carpe diem sem nem mesmo saber que raios era isso.

Sempre que meus olhos pousavam sobre meu irmão mais velho estudando feito louco pra alguma prova, por exemplo, nunca me ocorreu que um dia eu estaria em seu lugar. Tudo o que eu sentia era pena por ele não poder estar brincando de bola comigo. Tempos depois, ao ver alguém sofrendo por amor, eu assimilava esse sofrimento como pura falta do que fazer. Ah, quanta estupidez! Que imensa ingenuidade a minha achar que trataria com desprezo as paixões da vida e sairia impune delas.

Bom, a questão é que eu não tenho mais dez anos e as coisas não se resolveram como o planejado. Nada se acertou. As dúvidas aumentavam a cada dia, o stress me comprimia a cada prova, os amores me destroçavam a cada beijo e o carpe diem me abandonava a cada aula. Da mesma maneira me ficou claro que os adultos não são heróis e que eu estou por conta própria. Não entrei na melhor universidade do país e nem encontrei o amor da minha vida porque esse era o meu destino, mas sim porque depois de muito apanhar, arranquei as rédeas da minha vida das mãos alheias e passei a conduzir meu próprio caminho, ainda que com sangue escorrendo por entre os dedos. Ninguém nunca me recomendou a faculdade de letras, tampouco me disseram que eu seria feliz ao lado do meu namorado. Pelo contrário. Para todos que avisei da minha escolha quanto à faculdade me disseram que eu nunca alcançaria o sucesso. E quanto ao meu namoro, ninguém levou a sério. "Daqui dua semanas, acaba", deviam pensar.

A verdade, entretanto, é que eu nunca fui tão feliz em todos esses dezenove anos. Nunca, concessões e ponderabilidades me fizeram tão bem. Ao mesmo tempo, viver por impulso e seguir o fluxo das coisas me parecia tão adequado quanto todas essas precauções. Acabei por fazer os dois. Encontrei meu ponto de equilibrio e nunca mais passei uma única noite em branco. Trouxe os sonhos de volta ao meu dia-a-dia. Hoje, sequer consigo me lembrar das minha dores de amor ou das derrotas da vida. Mas tenho minhas cicatrizes, e delas, dos meus erros, me fortaleço. E mais uma vez citando uma das pessoas mais célebres que já conheci, termino tudo o que poderia dizer: "Nossos erros são as únicas coisas verdadeiramente originais que fazemos." Então eu erro, e a partir das cicatrizes oriundas desses erros, eu me torno, a cada dia, a pessoa mais feliz que poderia ser.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

headaches

"Como a natureza expressa o perigo? Beleza. Na natureza, tudo o que é fatal tem cores brilhantes e lindas, desde a Coral até as plantas carnívoras e os tigres. A mensagem é: o que é belo, mata. Mas o que significa a beleza? Desejo. Chamamos belo aquilo que nos atrai. Eis o truque. Aquilo que nos atrai, atrai por proveito próprio. O que nos convida, não nos convida por suas intenções, por isso precisa de uma fachada atrativa. O que é bom, engorda. O sol que aquece, enruga... Percebe a razão? O efeito do bem é o mal. Assim como o mal pede o bem. A natureza escreve assim."


(Jean M. explicando minhas dores de cabeça. É. Pois é...)

a poesia de quem não quer ser poeta

Pouco falo aqui sobre minha vida cotidiana. Pouco falo, aliás, sobre tudo. Me parece que depois de entrar para a faculdade de Letras a minha capacidade interpretativa aumentou exponencialmente ao mesmo tempo que o meu impulso criativo foi se escondendo por detrás do medo de nunca chegar a escrever algo realmente bom. Até que hoje, durante a aula de literatura comparada, meu professor disse algo que eu nunca havia antes escutado dentro daquela universidade: "Que tal se a gente, ao invés de só analisar, escrevessemos poesia?".

Silêncio total. Pois é, escrever poesia. Eu vejo poesia por todos os lados, todos os dias -e não me refiro aqui aos estudos do meu curso ou aos autores que leio com frequência, mas sim à poesia do dia-a-dia, pequenos traços de beleza, coisas simples... pra mim, isso é poesia - entretanto, nunca escrevi um único poema que seja. Nenhum. Sempre quando a idéia me surgia eu pensava: "Não levo jeito pra coisa, é melhor me contentar com minha vidinha prosaica..."

Hoje, mudei minha perspectiva ao olhar pra isso. Afinal, quem foi que disse o que eu não posso fazer? Nada que eu faça ou deixe de fazer tem a necessidade de se adequar ao que a sociedade chama de "bom" ou "ruim", tampouco devo eu me preocupar com isso. Tudo o que quero realizar é que deve tomar a dianteira nos meus caminhos cheios de retornos e encruzilhadas. E o que eu quero é bem simples: ter a escrita de volta como minha terapia diária. assim como foi durante muito tempo antes de eu me bloquear por fatores acadêmicos. Eu quero que seja fácil, assim como é agora. Eu quero, como disse meu professor, "soltar a mão", porque "basta que você solte sua mão para que o primeiro e mais dificil passo seja dado". Eu dei meu primeiro passo. Mais uma vez.

É tão ridiculo pensar que abri mão daquilo que mais gosto de fazer simplesmente por medo de não agradar. Por deus, não agradar a quem? Ninguém nunca lê nada do que escrevo, essa nunca foi a minha intenção. Ah, sim... Medo de não agradar a mim mesma. Me martirizo um pouco por ter demorado tanto a descobrir isso. Contudo, agora que conheço pouco mais de mim e tenho a noção de que tudo o que quero é me sentir feliz comigo mesma e realizada quanto as minhas reflexões - sem pensamentos turvos ou sonhos mal desenrolados me atormentando - eu escrevo, escrevo agora da mesma forma que sai correndo da minha aula de literatura pra poder sentar na praça do relógio e extrair minha primeira poesia numa só respiração. Sem pensar. Tão fútil, tão juvenil, tão passional. Mas minha. É só isso que me importa. E que julguem... Meu eu racional entrou de férias, e não comprou passagem de volta.


Não é outono
Mas o vento arranca com brutalidade
As folhas das árvores que secaram
E o farfalhar dessa natureza morta,
Ainda que respire,
Traz lágrimas aos olhos na menina de madeixas negras
Que oscila sob a copa de uma árvore cinza

O vento força; mas não se esforça
Pra que leve embora dos pés da menina
Seus sonhos de cor violeta
Que com tanta sutileza
Havia cuidado e guardado e regado
Na semente da árvore que chora
A cada folha que se vai.



Afinal, qual o sentido da vida sem poesia, não? Nela cabem as grandes paixões. E isso sempre me interessou muito. Hoje faço parte da primeira geração modernista. E que assim seja pelo tempo que me for necessário...