sexta-feira, 13 de agosto de 2010

a poesia de quem não quer ser poeta

Pouco falo aqui sobre minha vida cotidiana. Pouco falo, aliás, sobre tudo. Me parece que depois de entrar para a faculdade de Letras a minha capacidade interpretativa aumentou exponencialmente ao mesmo tempo que o meu impulso criativo foi se escondendo por detrás do medo de nunca chegar a escrever algo realmente bom. Até que hoje, durante a aula de literatura comparada, meu professor disse algo que eu nunca havia antes escutado dentro daquela universidade: "Que tal se a gente, ao invés de só analisar, escrevessemos poesia?".

Silêncio total. Pois é, escrever poesia. Eu vejo poesia por todos os lados, todos os dias -e não me refiro aqui aos estudos do meu curso ou aos autores que leio com frequência, mas sim à poesia do dia-a-dia, pequenos traços de beleza, coisas simples... pra mim, isso é poesia - entretanto, nunca escrevi um único poema que seja. Nenhum. Sempre quando a idéia me surgia eu pensava: "Não levo jeito pra coisa, é melhor me contentar com minha vidinha prosaica..."

Hoje, mudei minha perspectiva ao olhar pra isso. Afinal, quem foi que disse o que eu não posso fazer? Nada que eu faça ou deixe de fazer tem a necessidade de se adequar ao que a sociedade chama de "bom" ou "ruim", tampouco devo eu me preocupar com isso. Tudo o que quero realizar é que deve tomar a dianteira nos meus caminhos cheios de retornos e encruzilhadas. E o que eu quero é bem simples: ter a escrita de volta como minha terapia diária. assim como foi durante muito tempo antes de eu me bloquear por fatores acadêmicos. Eu quero que seja fácil, assim como é agora. Eu quero, como disse meu professor, "soltar a mão", porque "basta que você solte sua mão para que o primeiro e mais dificil passo seja dado". Eu dei meu primeiro passo. Mais uma vez.

É tão ridiculo pensar que abri mão daquilo que mais gosto de fazer simplesmente por medo de não agradar. Por deus, não agradar a quem? Ninguém nunca lê nada do que escrevo, essa nunca foi a minha intenção. Ah, sim... Medo de não agradar a mim mesma. Me martirizo um pouco por ter demorado tanto a descobrir isso. Contudo, agora que conheço pouco mais de mim e tenho a noção de que tudo o que quero é me sentir feliz comigo mesma e realizada quanto as minhas reflexões - sem pensamentos turvos ou sonhos mal desenrolados me atormentando - eu escrevo, escrevo agora da mesma forma que sai correndo da minha aula de literatura pra poder sentar na praça do relógio e extrair minha primeira poesia numa só respiração. Sem pensar. Tão fútil, tão juvenil, tão passional. Mas minha. É só isso que me importa. E que julguem... Meu eu racional entrou de férias, e não comprou passagem de volta.


Não é outono
Mas o vento arranca com brutalidade
As folhas das árvores que secaram
E o farfalhar dessa natureza morta,
Ainda que respire,
Traz lágrimas aos olhos na menina de madeixas negras
Que oscila sob a copa de uma árvore cinza

O vento força; mas não se esforça
Pra que leve embora dos pés da menina
Seus sonhos de cor violeta
Que com tanta sutileza
Havia cuidado e guardado e regado
Na semente da árvore que chora
A cada folha que se vai.



Afinal, qual o sentido da vida sem poesia, não? Nela cabem as grandes paixões. E isso sempre me interessou muito. Hoje faço parte da primeira geração modernista. E que assim seja pelo tempo que me for necessário...

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