quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Entendimento? Póstumo.


Fato que as pessoas possuem vazios. Ainda que não os percebam, eles estão por aí, incomodando. Mas um grande vazio não se preenche com um amontoado de outros vazios. Não importa a idade mental, o sexo, o nível econômico ou cultural. Se você aprecia Richard Wagner ou Lady Gaga, David Hume ou Paulo Coelho. Um dia, a ficha cai... A diferença está em como lidar com essa consciência. A esmagadora maioria não vai ter nem cinco minutos de seu precioso tempo pra pensar sobre ela. Já eu... Durante os últimos dois meses, alcancei o nada, a falta, o vazio, o buraco, o chão. Nunca antes eu havia sentido o chão com tamanho detalhamento. Nunca antes eu havia percebido o quão única e intransferível é a dor de um ser humano. Esta não é algo entendível. Não é algo que deva ser partilhado. É algo que deve ser digerido única e exclusivamente pelo coração de quem sofre. Fugir? Me esconder? Correr? Me distrair? Pode funcionar, sim. Mas com data de validade. Não importa por quanto tempo eu corra, em algum momento seria vencida pelo cansaço. Em algum momento retornaria para a minha dor. Ela é minha. Só eu posso conviver com ela. Os outros não a suportariam. Sou eu quem dela precisa retirar algo que me faça construir escadas para que me levante do chão. Eu. E ninguém mais. Me indago sobre a capacidade de sofrimento de algumas pessoas... Acho que, afinal, essas são as pessoas que mais se aproximam dos animais. Invejo-as. Vivem e sofrem sem a consciência da vida ou da dor. Agem como um rio que corre sem pensar, sem a menor percepção daquilo que está em volta, e o mais importante, sem serem capazes de parar. Essas pessoas possuem uma necessidade tão incontrolável de viver que se esquecem de todo o resto. Se esquecem que, talvez, as águas de seus rios estejam causando a queda da canoa de outra pessoa. Pessoa essa que fez de tudo para poder estar ali, partilhando um fragmento de sua vida com esse rio, por quem se apaixonou. A canoa faz-se, então, destroçada. E seus destroços, separados, significam  ainda mais do que a canoa completa. Representam uma humanidade incompreendida por uma força animal. Representam um coração extremamente machucado por alguém que nem ao menos possui consciência de tal feito... Será, então, cabível que a pobre canoa submeta-se à tamanho sofrimento? Um sofrimento sem sentido, sem amparo, sem entendimento? Absolutamente. É o sofrimento, a reflexão sobre ele e o tão esperado entendimento sobre sua origem pelo qual passará a canoinha que fará com que ela se reconstrua de um sentimento muito mais forte para encarar a próxima correnteza. Ela não mais se dará à um vazio, será seletiva em relação aos rios. Analisará seus trejeitos, suas nuances...  Talvez agora, mais endurecida, menos flexível...Mas totalmente pronta para aguentar um número muito maior de machucados sem sentir  a mesma dor que um dia lhe partiu ao meio, espalhando seus pequenos destroços ao longo do rio...

Nenhum comentário:

Postar um comentário